domingo, 12 de outubro de 2008

Here I am

My darlings,

Muitas coisas têm acontecido nos mais diferentes contextos. Embora seja difícil acreditar, tenho que dizer que sinto falta em dar notícias por aqui. E como já disse antes, depois de tanto tempo fico até perdida nas minhas informações. Começarei então pelo fim da novela do meu lar-agora-ex. Sim, mais uma vez estou de casa nova.

Nas duas últimas semanas que por lá estive, na minha ex-casa, houve um inusitado aumento populacional. Até cheguei a sentir meu espaço invadido. Tudo começou quando, num dia não chuvoso, conheci Robert-a-lenda-operária (!). A primeira sensação que tive foi de abandono. Isso porque ao chegar em casa, notei vida na sala, mas a porta estava fechada. Muito esquisito. Claro que tentei me fazer presente, deixei a chave cair, esbarrei na escada e abri e fechei a porta da cozinha umas duas vezes. De nada adiantou. Continuei sem nenhum tipo de recepção calorosa. Minutos depois, quando já estava em meu quarto elaborando uma estratégia para provocar um encontro quase-que-sem querer, escutei Robert deixando a casa. Fiquei abalada. Sem saber para quê, desci no mesmo minuto. Idiotamente, fiquei parada na porta da sala pensando na oportunidade desperdiçada e averiguando o local em busca de algum vestígio. Nesse momento de fraqueza, Robert reapareceu e junto a ele, o Robert-Pai. Nem tentei explicar o que eu estava fazendo ridiculamente ali. Assim como a maioria dos irlandeses, eles eram simpáticos. O Robert é um garoto de uns 20 e poucos anos, recém formado e com aparelho nos dentes - daí a tal visita ao dentista. E como informação extra para minhas amigas, nada de mais. Nosso encontro durou cinco minutos e meia dúzia de palavras. Isso porque Robert estava partindo para sempre. Só veio pegar suas malinhas para voltar a morar com seus pais. Suas últimas palavras foram " se você achava que estava sozinha, agora de fato você estará! ". Fiquei atônita. Ponto para o Robert.

Dessa vez essa parte não é opcional. É apenas um parelelo a história para introduzir a vocês novas idéias e uma nova pessoa....
Assim que Robert me deixou, resolvi que tudo de agora em diante seria meu de fato. Comecei abrindo caminhos. Tirei todas as coisas de terceiros do banheiro e substitui pelas minhas, emprestei uma mesinha de cabeceira do ex-quarto do Robert e passei a secar minhas roupas no quarto ao lado ao meu onde o sol batia mais forte (?). Tudo em prol do meu bem estar. Confesso que deu certo e me apeguei ao local. E digo mais, super funcionou como terapia. No final de quase um mês, já ia beber água durante a madrugada na cozinha que ficava no andar debaixo. E em meio a esse turbilhão de emoções e aprendizados, comecei a pensar seriamente em continuar a morar por lá. Pasmem! O detalhe era que eu não tinha para quem falar isso. Enquanto ninguém aparecia, a solução foi procurar por alternativas. Poderia iniciar uma nova busca por um lar ou simplesmente voltar como um cão arrependido para a casa da Susan. Nesse contexto, estava eu a olhar no mural da escola anúncios sobre quartos para alugar quando encontrei algo interessante, anotei o número, mas não conseguia entender o nome. Perguntei a uma menina que estava ao meu lado anotando o mesmo telefone. Ela também não fazia idéia. Conversamos um pouco, nos demos bem e cogitamos a possibilidade de procurar junto um apartamento inteiro para alugar e sublocar os outros quartos para outras pessoas. Fácil assim. No começo achei que ela fosse espanhola ou italiana, mas daí descobri que é eslovaca. Convenhamos, com a notoriedade do país acredito que seja pouco provável alguém se lembrar dessa opção na hora de fazer sugestões sobre sua origem. Ela se chama Kristina, mas é chamada de Tina. Temos praticamente a mesma idade, 18-quase-19. Foi a primeira européia que eu vi com uma maquiagem decente. Diga-se de passagem, ela faz uma maquiagem ótima. Iniciamos nossa saga em busca de apartamentos quando, me achando legalmente a proprietária, resolvi sublocar um dos quartos lá de casa para ela. Ora, havia dois quartos livres e poderíamos dividir as contas. Achei genial minha idéia, mas ela queria falar com alguém da casa antes de se mudar para lá. Ou seja, nada de sublocar o quartinho por enquanto. Então, continuamos a procurar um apartamento e também as pessoas lá de casa.

Voltando a história...
Quase uma semana depois de ver Robert e já no auge do meu desamparo, resolvi seguir os conselhos de uma de minhas leitoras e escrevi um bilhete-S.O.S. em linguagem apelativa. Deu certo. Em apenas dois dias tive notícias grudadas na porta da geladeira. Isso não quer dizer que a tal pessoa estava ali o tempo todo e eu bancando a boba. Foi uma feliz coincidência, já que ela havia recém chegado de férias. Ela é uma irlandesa que atende pelo nome de Ovlagh (ou algo parecido com isso. Leia-se Olia). Não possui sotaque irlandês, mas usa as frases típicas de um irlandês. Através de recados e ligações, marcamos de nos encontrar um dia. Ok, me senti ridícula ao agendar um horário para conversar com a pessoa que mora na minha casa. Conversa vem e conversa vai, descobri que todos iriam deixar o apartamento no final daquela semana. Ou seja, só não era possível renovar o contrato como também em quatro dias eu seria uma desabrigada. Fiquei possessa, pois o combinado seria eu ficar até o dia 11 de outubro e não até o dia 3. E mais, se eu não tivesse encontrado a Ovlagh, jamais saberia que aquele lugar não me pertenceria mais. E ainda, teria que me mudar no final de semana que eu estava indo para Londres. Disse coisas más em pensamento para o tal do italiano que me alugou esse quarto até vir a descobrir a origem de toda essa confusão. A Ovlagh e mais três meninas eram amigas da faculdade que dividiam essa casa-apartamento. Uma delas saiu e em seu lugar veio Robert. Já a menina que morava em meu quarto, brigou com as outras. E talvez num surto vingativo e econômico resolveu alugar, ainda que sem o conhecimento das outras, para o italiano por dois meses. O italiano por sua vez resolveu voltar para a Itália e alugou para mim para mais um mês. Do mesmo jeito que eu já tinha ficado assustada, dessa vez era Ovlagh que estava. A sorte dela é que sou uma boa pessoa.

Despejada e agora sem um quartinho extra para alugar para a Tina, me concentrei na busca por uma nova moradia. Nessa altura da vida, minhas ambições foram diminuindo. Boicotei a idéia de um apartamento para sublocarmos os quartos e iniciei uma busca enlouquecida por algo com dois quartos ou até mesmo apenas um só para mim. Tina que me perdoasse. Durante a noite pesquisavamos na internet, mandavamos emails e faziamos ligações para agendar visitas, e durante o dia, eu e Tina, fazíamos um tour imobiliário. Vimos tanta coisa. Já desiludidas, fomos fazer a última visita do segundo dia de procura. Achamos o lugar ideal. Casinha com estilo irlandês, área boa, porta gigante de vidro na sala, dois quartos, todo arrumadinho e muito barato! Claro que na medida do possível. Queríamos aquele lugar. Eu sentei no sofá e a Tina iria até em casa pegar o dinheiro para pagar o depósito. Oras, ela é pouca coisa mais nova do que eu. E sim, aqui é necessário para um mês adiantado de aluguel como depósito para garantir que v. ficará com a casa. Se você fizer tudo bonitinho durante sua estadia e cumprir o prazo de locação do contrato, no final você o tem de volta. Quase que um dinheiro-calção. Já fazendo planos para nossa nova morada, o proprietário nos alertou que havia um rapazinho interessado e que havia prometido voltar em 15 minutos com o dinheiro. Se assim o fosse, o apartamento seria dele. Senão, nós seríamos as novas locatárias. Foram longos 15 minutos de espera. Até elaboramos estratégias para evitar que ele retornasse a casa em tempo, mas como disse, sou uma boa pessoa. O tal rapaz, que estava mais para menina, voltou. Tentamos fazê-lo mudar de idéia, mas de nada adiantou. No final, com as duas mãozinhas no bolso da calça, mexendo o quadril lentamente em círculos e dando uma risadinha "hi hi hi", ele teve a ousadia em dizer Thank you. Acho que ele não tinha noção do perigo. Pena que não posso expressar publicamente os pensamentos que me vieram a cabeça e os apelidinhos que eu e Tina demos a ele. Toda essa frustração serviu ao menos para comover o proprietário. Ele, um tiozinho irlandês do campo e de cara vermelha, disse que tinha mais dois apartamentos para alugar. E para lá fomos nós as dez horas da noite!
Os dois apartamentos ficavam no mesmo prédio, de estilo também irlandês. Podemos dizer que um era no porão e o outro no primeiro andar. Ambos compactos, mas ajeitadinhos. Quer dizer, iriam ficar. Estavam em reforma. O único problema era que não havia dois quartos. Só que a cada minuto que se passava nossas ambições diminuiam cada vez mais. Já nem nos importávamos mais com esses agora-detalhes. Resolvemos ficar com o porãozinho que era maior e tinha até lareira, ainda que decorativa. Combinamos voltar no dia seguinte para pagar o tal depósito. Felizes e abrigadas, voltamos cada uma para sua casa. Eis que no dia seguinte, a Tina teve a brilhante idéia de conversar com um de seus professores. Ele a assustou. Disse que morar no porão era perigoso, pois a porta de entrada é independente do prédio e fica para rua (e era exatamente isso o que mais tínhamos gostado no lugar). Perguntou sobre saída de emergência (???) e sobre o alarme de segurança, e disse ainda que a área era perigosa, pois há uns prediozinhos para a classe menos favorecida próximo dali. Eita lá! Vamos por partes. Primeiro, em Dublin as casas nem portão têm! Ou quando têm, eles são de no máximo 1m de altura e ficam abertos, sempre! Para mim, os portões aqui são mais objetos de decoração do que para proteção. Segundo, saída de emergência?! Oras, se a porta de entrada é tão vulnerável assim, é só quebrá-la que você tem uma saída de emergência e direto para a rua! Terceiro, alarme?! Contra quem e para proteger o que?! Cada uma de nós tem apenas duas malas de roupa e em Dublin as pessoas mais perigosas são os bêbados (!!!) e eles estão desarmados. Qualquer problema é só empurrar, pois eles não conseguirão levantar de novo. E por fim, área perigosa?! É uma das áreas mais charmosinhas dessa cidade e fica a 10 minutos caminhando da nossa escola. E prediozinhos para classe menos favorecida?! Não procede! O prédio que fica atrás é melhor do que o que estava para alugar. Professor coxinha! Ele terá uma crise de choro o dia que for a SP. No meio dessa brincadeira, acabamos perdendo tempo e consequentemente o porãozinho. Como não demos mais certeza para o proprietário, ele alugou para uma tal de Rebecca que tinha o dinheiro em mãos. O resultado foi morar no apartamento do primeiro andar e assim perder nossa porta privativa e alguns bons metros quadrados.

Nos mudamos sexta-feira passada e a reforma terminou essa terça. Agora podemos dizer que temos um lar. Um lar muito engraçado e com uma vizinhança dramática e peculiar. Ponto para a gente! =)
beijinhos estreantes,
Ellen
P.S. Sem detalhes nesse post sobre minha nova casa, pois ela merece um exclusivo.

5 comentários:

  1. Bom Ellen, talvez o prediozinho para pessoas menos favorecidas a que se referiu o professor seja o de vocês ahahahahaha..
    Pig-beijos

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  2. Me dou por citada no dinheiro-calção. ahahahahahahaha

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  3. Pâm,
    Sim...lembrei de vc com a história do dinheiro-calção e digo mais, até visualizei nosso trocadilho tecnológico. =)

    E Zé, fico feliz que v. não me desprezou, venceu sua preguiça e leu! Quer dizer, vou acreditar nisso.

    beijos ao meu casal de leitores

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  4. Pâm sua monstra!!!
    Só pra constar que eu não só leio como respondo aos meus comentários. Veja a minha resposta aí...a sua sorte é que minha memória é de mentirinha e já não me lembrava que havia respondido.

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