sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Au revoir

* Antes de começar a ler de verdade, recomendo apertar o play.


Sei que estava recuperando meu ritmo frenético de postagem, mas me vejo obrigada a ter uma semana de folga. Sim, estou de férias(?). Papai, mamãe e meu querido irmão estão chegando hoje em Dublin e quarta-feira voaremos rumo a Paris. Estarei de volta apenas no próximo final de semana. Desejem-me boa diversão e boa viagem, ok?!

Como cenas para o próximo capítulo ficam:
- a primeira noite de uma coreana em um Night Club
- como sobrevivi ao dirigir do lado contrário
- o dia em que sofri meu primeiro assédio de um leitor-tiéte que veio para Dublin
- a história do espanhol que só comia bananas

beijos em família,
Ellen

p.s. Para não sentirem tanto a minha falta, atualizei meu álbum de fotos. Ok, sei que vocês verão coisas das quais nunca mencionei. É que perdi o time e já virou passado. Quando eu voltar conto para vocês. (http://picasaweb.google.com.br/ellen.oioli)

Brisa irlandesa

Começo a sentir frio de verdade nesse país. Estamos no outono e aqui não há algumas folhas no chão, mas toneladas e tonelas delas. É bem bonito. Já não escurece mais as 22h da noite e sim as 18h00. Ok, está dentro de nossa normalidade brasileira, mas aqui menos luz significa menos calor (?). E o vento?! Caramba!, como venta nessa cidade...!!!E é um vento beeeem gelado!!! Se já não era fácil, agora se tornou impossível usar guarda-chuva. E digo mais, até capuz está sendo complicado. Se está caminhando contra o vento ele não pára no lugar certo, e se está a favor ele não sai da sua cabeça por nada. A previsão indica que segunda-feira será o primeiro dos dias frios. A sensação térmica será de -1 grau. Saint Patrick bless us!

beijos roxinhos,

Ellen

P.S. Na tentativa de nos proteger do inverno e fazer do nosso buraco-apartamento mais quentinho, chegamos ao auge de nossa simplicidade. Hoje vedei a janelinha do banheiro com durex. Nenhuma brisa de qualquer intensidade passa mais por ali. Ponto para mim.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Vai e volta

Não era exatamente sobre esse assunto que planejava falar. No entanto, recebi um e-mail hoje e mudei de idéia. Ok, será uma pausa para um momento coxinha, de curiosidade, de chame-do-que-quiser. E também um pouco triste. Por tanto, dou a total liberdade de pularem esse post e aguardarem por um novo.

O email era de uma das minhas leitoras, a Pâm, contando sobre sua participação no Jornal da Gazeta. Com essa história de 2o. turno nas eleições, nossa boquinha-agora-torta Marta Suplicy foi dar o ar da graça no tal telejornal e responder as perguntas de alguns cidadãos. Entre as milhares de perguntas, a de PâmPâm foi selecionada. Ponto para ela. Diria que foi bem pertinente e para deixá-los a par, segue na íntegra: (gosto quando falam isso)

Candidata, o que você acha do metrô funcionar durante a madrugada toda na cidade? Ainda que houvesse poucos trens, de 15 em 15 minutos ou de 30 em 30, seria uma grande alternativa para diminuir o número de pessoas que dirigem depois de beber, não?

Isso poderia ainda ser aliado a linhas circulares de ônibus noturnos nos bairros onde há maior concentração de bares.

Você implantaria esse projeto?

Não cabe agora a resposta intrigante de nossa canditada-mãe-de-Supla. No entanto, a postarei no final para causar faniquitos em vocês. Se bem que a maioria dos meus leitores, estavam também copiados no tal e-mail. Enfim...
Esse assunto acabou me lembrando de outro. Coincidentemente, ou por pura sincronia (!), essa semana vi diversas vezes um comercial na TV daqui (óbvio) conscientizando sobre o ato de dirigir imprudentemente. Fiquei pasma. É uma linguagem muito agressiva. Na verdade estou sendo eufêmica. É muito, mas muito mais do que agressiva. Fiquei tentada em postar aqui logo que vi, mas achei triste demais. No entanto, tais circunstâncias me fizeram mudar de idéia. O vídeo que vi era especificamente sobre dirigir em alta velocidade, mas rola também um campanha na mesma linha sobre beber e dirigir. Ok, não vou entrar no mérito da questão "é super tudo bem beber loucamente, o problema só está em dirigir depois". Longe de mim ser coxa e desviar o assunto.

Aqui na Irlanda, como agora no Brasil, há a tal da lei seca. Óbviamente foi uma coisa muito sábia nesse país, afinal, o teor alcoólico de um cidadão irlandês pode atingir níveis exorbitantes. Eu saí do Brasil na semana em que entrou em vigor por aí, logo, apenas sei o que os jornais online disseram. No entanto, aqui na Irlanda eles levam isso bem a sério. Não sei se é de praxe ou não, mas até já presenciei a Gardaí (a polícia irlandesa, no plural. Leia-se Gardí.) fazendo a vistoria no semáforo. Sei que isso soa estranho, mas aconteceu. Estava eu sentadinha na beira do Rio Liffey numa noite a pensar na vida, quando vi uma movimentação estranha. Os carros parados no sinal e a Gardaí os abordando. Um a um. Talvez fosse apenas um dia de mau humor. Seja lá o que tenha sido, ao menos aqui eles proibem, conscientizam(?) e dão uma segunda opção para voltar para casa.

Durante a madrugada há os ônibus especiais, o Nitelink. Ok, não é a perfeição do sistema público de transporte. Só que Dublin, uma capital de 1.5 milhões de habitantes, possui algo do tipo enquanto em São Paulo a alternativa é sentar e chorar nesse horário. Se bem que eu não seria capaz de pegar um ônibus essas horas por lá. Muito menos uma lotação (vide vídeo Marta-Suplício no final). Porém, o metrô poderia ajudar. Aqui, os ônibus convecionais param de funcionar as 23h30 e o Luas as 00h30 (exceto aos domingos, onde tudo e todos fecham 1 hora antes). Os Nitelinks começam a funcionar as 00h30 e se não estou enganada, eles passam a cada 20 minutos. A parte ruim é que o ticket custa 5 euros e não dá para usar seu cartão de ônibus do mês, por exemplo. Eu só o usei duas vezes. Pelo preço, se você está com mais alguém, vale a pena dividir um táxi. E onde moro agora, com 5 euros eu pago uma corrida do centro até a porta do meu lar doce lar. Ainda assim, é uma boa alternativa. Em Londres, eu também usei o tal do ônibus especial duas vezes. A diferença foi que eu não paguei em nenhuma delas. Quer dizer, eu tinha um ticket para metrô e ônibus que valia para o dia todo, e não precisei pagar por um preço também especial. Em Dublin, a única recomendação é evitar a parte de cima dos ônibus (sim, aqui todos eles são de dois andares), pois a concentração de gente bêbada e vômitos é enorme. Bom, ao menos eles chegam em casa. E se não chegam, é porque continuam dormindo nos ônibus.


Se não tivesse visto várias vezes essa semana na TV, acharia que é aqueles vídeos-de-causar-impacto da internet, sabem?!


eu não achei nada recente, então usarei um do ano passado

Contradizendo minha natureza não vou me estender muito dessa vez. Semre fico triste quando assisto a isso. Porém, numa tentativa-Xuxa-contra-o-baixo-astral eis o videozinho da ex-senhora-Suplicy.


Lotação?! Hein?! Como diria mamãe, é soda!

Beijinhos sensibilizados,
Ellen

P.S. Pâmela Cristóvão Reis, como v. já havia sendo mencionada obscuramente diversas vezes por aqui, dessa vez resolvi te citar abertamente, ok? Agradecida por isso. Boto fé em você.
P.S 2 Comecei a escrever ontem, mas só finalizei hoje. Oka?!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Simple life

Sei que me estendi por demais na última vez em que estive por aqui. Diria que foi uma síntese dos últimos meses que não me fiz tão presente, mas dessa vez serei mais breve. E também tenho fotos. Muitas fotos.

Aos que não resistiram até o final do último post, digo que estou de casa nova. Sim, mais uma vez. Sabe aquela bonita canção era uma casa uma engraçada, não tinha teto, não tinha nada..? Então minha nova casa é mais ou menos assim. Quer dizer, tenho um teto, mas não tinha chão até semana passada. Digo, o carpete. No lugar, havia papelões que nos obrigava a usar tênis todo o tempo. E?! E também não não sei porque digo isso, enfim.



o começo

O apartamento fica no meio de um centrinho comercial de um bairro bem bacaninha de Dublin. Tudo muito charmosinho e acessível. Aqui há um pouco de tudo, restaurantes, cafés, lojas, supermercados, correio, farmácias e blá-blá-blá. Exceto pubs, pois não há um pouco, mas sim milhares e milhares deles. Nosso convenientemente-favorito é um vermelhinho que fica exatamente em frente a nossa casa-prédio. É só abrir nossa porta, olhar para os lados, cruzar a rua e ulala. Segundo John-e/ou-Tom, o tiozinho-irlandês-de-cara-vermelha-e-também-proprietário-da-casa, é onde há uma das boas pints* de Guinness em Dublin. Que assim seja! Outro lugar que merece destaque é um restaurante chinês a três casas e dois estabelecimentos comerciais de nosso lar. Carinhosamente, eu o chamo de "Little China". Como um bom chinês, é pouco-limpo e o atendimento é jóia. Quando a comida está pronta a tiazinha-china-do-balcão grita quase-que-simpaticamente Ladies! e lá vamos nós. Inexiste a possibilidade de eles levaram até mesa. Ainda assim, sempre vamos lá. A comida é boa e barata.







Mother Relly´s (ou Mother Fu...)




fazendo tapetes


essa é a Tina

Agora moro numa casa de arquitetura típica irlandesa, e também de porta vermelha. Não, não moro na casa toda. Ocupo apenas um simbólico buraco chamado de flat ao lado do que chamam de lavanderia. Isso por que a maioria dessas casas são feitas de prédios hoje em dia. Aqui moramos somente eu e a Tina, até mesmo porque seria impossível fazer caber mais uma pessoa. Eu a chamo de holemate. Diria que é um apartamento compacto de três cômodos. Logicamente temos o banheiro em um, o quarto com as duas camas e um guarda-roupa em outro, e por fim, o hall de entrada, a sala de TV, a cozinha e a sala de jantar no outro cômodo. É super prático e de fácil acesso! Dá para cozinhar sentada no sofá. Assim como assistir TV, comer, estudar, pegar algo na geladeira e etc.



número 47


visão geral
(hall de entrada e ao longe o quarto e/ou fim do apartamento)


sala de TV


o sofá da sala de TV


sala de jantar


cozinha
(ainda não conseguimos ficar as duas ao mesmo tempo na cozinha)


a cozinha vista por um lado prático


como diria os amigos da rainha, mind the gap

Como é de praxe por aqui, alugamos o apartamento imobiliado. E ainda por cima, ganhamos duas camas novas de solteiro que mal cabem no quarto, já que a antiga era de casal. É muito equipado. Há televisão com doze canais, microondas, ferro de passar (!), garrafa elétrica para aquecer água (depois da máquina de lavar louças que eu não tenho mais aqui, essa é umas das coisas que mais gosto), forno-fogão-e-exaustor (tudo bem que jamais me atreveria fritar algo aqui, pois é alto o risco de incêndio) e como extra, temos um lindo relógio em forma de girassol cujo ponteiro é uma linda e glamourosa borboleta rosa-desbotada. A Tina a chama de Cecile. Além de todos os aparatos tecnológicos, agora também temos pratos, tigelas e talheres, ainda que sendo dois de cada. Os pais da Tina vieram passar alguns dias em Dublin e entre os comes e bebes eslovacos que nos trouxeram, estavam nossos aparatos. Agora só nos falta panelas.






a cômoda da sala (?!)


Cecile




beautiful




comes e bebes diretos da Eslováquia
(é um dos melhores biscoitinhos que já comi)

Embora seja tudo muito charmosamente-fim-de-carreira por aqui, o sistema elétrico da casa é o que se sobressai. Não temos contas a pagar. É óbvio que pagamos pela energia, mas de uma maneira alternativa e rudimentar. Dentro do armariozinho da TV há um relógio que mostra o quanto de energia ainda temos disponível. Se o ponteiro estiver próximo do zero é hora de recarregá-lo. Basta apenas colocar moedas de 2 euros e dar corda!!! Simples! E não é piadinha. É assim que pagamos por nossa energia aqui. Sistema ultra-revolucionário. Até agora só ficamos uma vez sem luz. Bom, nem preciso dizer o quão ridículo é sair da casa para contar as moedas sob a luz do hall do prédio. Outra coisa curiosa é ligar o chuveiro. Se antes me causava estranheza apertar Power, aqui tenho que puxar uma cordinha do lado de fora do box. Sim, a cordinha é semelhante aquelas usadas para dar descarga. Agora o que ainda não conseguimos entender, é porque o interruptor da água quente do chuveiro fica na cozinha. Não que seja uma longa caminhada de um lugar para outro. É só algo que nos intriga.


A vizinhança lembra um campo de refugiados em alguns momentos. No apartamento de cima, provavelmente moram alguns árabes/mulçumanos agitados. Isso porque os escutamos rezar de uma maneira talibã algumas vezes e estão sempre andando, desajeitadamente, de um lado para o outro. Quando estão parados normalmente estão cantando. Já ouvimos de tudo, de música árabe até Amy Winehouse. No mesmo andar que o nosso , há uma família. Talvez uma família moderna, pois até agora só sabemos da existência da mãe e da filha pequena e bonitinha. Acredito que elas sejam irlandesas. Suspeitamos também que a mãe é a autora de um recado no hall de entrada que pede aos moradores para fecharem a porta de maneira gentil, pois elas não conseguem dormir. Há ainda a Rebeca, a tal que alugou o porãozinho, a meio lance de escada abaixo. Nunca a vimos. Talvez seja uma inquilina imaginária. No prédio ao lado há uns rapazes egípcios que se tornaram nossos amigos de janela. E por fim, no apartamento atrás do nosso há um ser solitário e misterioso. Ainda não o/a conhecemos, mas sabemos que ele/ela pouco se importa com suas calças e com a boa aparência do local. Dois de seus jeans estão estendidas há dias num varalzinho do lado de fora. Faça chuva ou faça sol.




Ok, se analisarmos com o coração veremos que não é um lugar tão ruim. Tem lá suas peculiaridades e as vezes fica um pouco pequeno demais, mas mesmo assim tem seus encantos.

beijinhos apertados,
Ellen

P.S. Impressionados com minha assiduidade, hã?!
P.S. 2 *Dizem por aqui que para saber se uma pint de Guinness é realmente boa, basta observar se a cada gole ficam marcas de espuma no copo. Ou seja, v. pode fazer uma média de quanto goles são necessários para finalizar uma pint. Confesso que eu ainda não consegui vivenciar essa experiência. Ou sou lerda demais e minha espuma some, ou meus goles são muito pequenos e não há espaço para diferentes linhas de espuma ou tive a infelicidade de só tomar Guinness ruim.
P.S 3 Escrevi há alguns dias atrás, mas só consegui postar hoje. E, as calças ainda continuam lá.

domingo, 12 de outubro de 2008

E o sol dourado apareceu...

Olha só o que acabo de ver na TV!

Magners é uma cerveja irlandesa e muito ruim por sinal. Quer dizer, há quem goste. É um tipo diferente que eles chamam de cider. O gosto lembra vinho misturado com cerveja. Confesso que sou leiga no assunto e não sei se temos coisa parecida no Brasil, mas se não tivermos, não há nada a ser lamentado. Fica valendo pela música! Poxa, poxa...que aperto no cuore!

beijos profundamente sensibilizados,
Ellen

Here I am

My darlings,

Muitas coisas têm acontecido nos mais diferentes contextos. Embora seja difícil acreditar, tenho que dizer que sinto falta em dar notícias por aqui. E como já disse antes, depois de tanto tempo fico até perdida nas minhas informações. Começarei então pelo fim da novela do meu lar-agora-ex. Sim, mais uma vez estou de casa nova.

Nas duas últimas semanas que por lá estive, na minha ex-casa, houve um inusitado aumento populacional. Até cheguei a sentir meu espaço invadido. Tudo começou quando, num dia não chuvoso, conheci Robert-a-lenda-operária (!). A primeira sensação que tive foi de abandono. Isso porque ao chegar em casa, notei vida na sala, mas a porta estava fechada. Muito esquisito. Claro que tentei me fazer presente, deixei a chave cair, esbarrei na escada e abri e fechei a porta da cozinha umas duas vezes. De nada adiantou. Continuei sem nenhum tipo de recepção calorosa. Minutos depois, quando já estava em meu quarto elaborando uma estratégia para provocar um encontro quase-que-sem querer, escutei Robert deixando a casa. Fiquei abalada. Sem saber para quê, desci no mesmo minuto. Idiotamente, fiquei parada na porta da sala pensando na oportunidade desperdiçada e averiguando o local em busca de algum vestígio. Nesse momento de fraqueza, Robert reapareceu e junto a ele, o Robert-Pai. Nem tentei explicar o que eu estava fazendo ridiculamente ali. Assim como a maioria dos irlandeses, eles eram simpáticos. O Robert é um garoto de uns 20 e poucos anos, recém formado e com aparelho nos dentes - daí a tal visita ao dentista. E como informação extra para minhas amigas, nada de mais. Nosso encontro durou cinco minutos e meia dúzia de palavras. Isso porque Robert estava partindo para sempre. Só veio pegar suas malinhas para voltar a morar com seus pais. Suas últimas palavras foram " se você achava que estava sozinha, agora de fato você estará! ". Fiquei atônita. Ponto para o Robert.

Dessa vez essa parte não é opcional. É apenas um parelelo a história para introduzir a vocês novas idéias e uma nova pessoa....
Assim que Robert me deixou, resolvi que tudo de agora em diante seria meu de fato. Comecei abrindo caminhos. Tirei todas as coisas de terceiros do banheiro e substitui pelas minhas, emprestei uma mesinha de cabeceira do ex-quarto do Robert e passei a secar minhas roupas no quarto ao lado ao meu onde o sol batia mais forte (?). Tudo em prol do meu bem estar. Confesso que deu certo e me apeguei ao local. E digo mais, super funcionou como terapia. No final de quase um mês, já ia beber água durante a madrugada na cozinha que ficava no andar debaixo. E em meio a esse turbilhão de emoções e aprendizados, comecei a pensar seriamente em continuar a morar por lá. Pasmem! O detalhe era que eu não tinha para quem falar isso. Enquanto ninguém aparecia, a solução foi procurar por alternativas. Poderia iniciar uma nova busca por um lar ou simplesmente voltar como um cão arrependido para a casa da Susan. Nesse contexto, estava eu a olhar no mural da escola anúncios sobre quartos para alugar quando encontrei algo interessante, anotei o número, mas não conseguia entender o nome. Perguntei a uma menina que estava ao meu lado anotando o mesmo telefone. Ela também não fazia idéia. Conversamos um pouco, nos demos bem e cogitamos a possibilidade de procurar junto um apartamento inteiro para alugar e sublocar os outros quartos para outras pessoas. Fácil assim. No começo achei que ela fosse espanhola ou italiana, mas daí descobri que é eslovaca. Convenhamos, com a notoriedade do país acredito que seja pouco provável alguém se lembrar dessa opção na hora de fazer sugestões sobre sua origem. Ela se chama Kristina, mas é chamada de Tina. Temos praticamente a mesma idade, 18-quase-19. Foi a primeira européia que eu vi com uma maquiagem decente. Diga-se de passagem, ela faz uma maquiagem ótima. Iniciamos nossa saga em busca de apartamentos quando, me achando legalmente a proprietária, resolvi sublocar um dos quartos lá de casa para ela. Ora, havia dois quartos livres e poderíamos dividir as contas. Achei genial minha idéia, mas ela queria falar com alguém da casa antes de se mudar para lá. Ou seja, nada de sublocar o quartinho por enquanto. Então, continuamos a procurar um apartamento e também as pessoas lá de casa.

Voltando a história...
Quase uma semana depois de ver Robert e já no auge do meu desamparo, resolvi seguir os conselhos de uma de minhas leitoras e escrevi um bilhete-S.O.S. em linguagem apelativa. Deu certo. Em apenas dois dias tive notícias grudadas na porta da geladeira. Isso não quer dizer que a tal pessoa estava ali o tempo todo e eu bancando a boba. Foi uma feliz coincidência, já que ela havia recém chegado de férias. Ela é uma irlandesa que atende pelo nome de Ovlagh (ou algo parecido com isso. Leia-se Olia). Não possui sotaque irlandês, mas usa as frases típicas de um irlandês. Através de recados e ligações, marcamos de nos encontrar um dia. Ok, me senti ridícula ao agendar um horário para conversar com a pessoa que mora na minha casa. Conversa vem e conversa vai, descobri que todos iriam deixar o apartamento no final daquela semana. Ou seja, só não era possível renovar o contrato como também em quatro dias eu seria uma desabrigada. Fiquei possessa, pois o combinado seria eu ficar até o dia 11 de outubro e não até o dia 3. E mais, se eu não tivesse encontrado a Ovlagh, jamais saberia que aquele lugar não me pertenceria mais. E ainda, teria que me mudar no final de semana que eu estava indo para Londres. Disse coisas más em pensamento para o tal do italiano que me alugou esse quarto até vir a descobrir a origem de toda essa confusão. A Ovlagh e mais três meninas eram amigas da faculdade que dividiam essa casa-apartamento. Uma delas saiu e em seu lugar veio Robert. Já a menina que morava em meu quarto, brigou com as outras. E talvez num surto vingativo e econômico resolveu alugar, ainda que sem o conhecimento das outras, para o italiano por dois meses. O italiano por sua vez resolveu voltar para a Itália e alugou para mim para mais um mês. Do mesmo jeito que eu já tinha ficado assustada, dessa vez era Ovlagh que estava. A sorte dela é que sou uma boa pessoa.

Despejada e agora sem um quartinho extra para alugar para a Tina, me concentrei na busca por uma nova moradia. Nessa altura da vida, minhas ambições foram diminuindo. Boicotei a idéia de um apartamento para sublocarmos os quartos e iniciei uma busca enlouquecida por algo com dois quartos ou até mesmo apenas um só para mim. Tina que me perdoasse. Durante a noite pesquisavamos na internet, mandavamos emails e faziamos ligações para agendar visitas, e durante o dia, eu e Tina, fazíamos um tour imobiliário. Vimos tanta coisa. Já desiludidas, fomos fazer a última visita do segundo dia de procura. Achamos o lugar ideal. Casinha com estilo irlandês, área boa, porta gigante de vidro na sala, dois quartos, todo arrumadinho e muito barato! Claro que na medida do possível. Queríamos aquele lugar. Eu sentei no sofá e a Tina iria até em casa pegar o dinheiro para pagar o depósito. Oras, ela é pouca coisa mais nova do que eu. E sim, aqui é necessário para um mês adiantado de aluguel como depósito para garantir que v. ficará com a casa. Se você fizer tudo bonitinho durante sua estadia e cumprir o prazo de locação do contrato, no final você o tem de volta. Quase que um dinheiro-calção. Já fazendo planos para nossa nova morada, o proprietário nos alertou que havia um rapazinho interessado e que havia prometido voltar em 15 minutos com o dinheiro. Se assim o fosse, o apartamento seria dele. Senão, nós seríamos as novas locatárias. Foram longos 15 minutos de espera. Até elaboramos estratégias para evitar que ele retornasse a casa em tempo, mas como disse, sou uma boa pessoa. O tal rapaz, que estava mais para menina, voltou. Tentamos fazê-lo mudar de idéia, mas de nada adiantou. No final, com as duas mãozinhas no bolso da calça, mexendo o quadril lentamente em círculos e dando uma risadinha "hi hi hi", ele teve a ousadia em dizer Thank you. Acho que ele não tinha noção do perigo. Pena que não posso expressar publicamente os pensamentos que me vieram a cabeça e os apelidinhos que eu e Tina demos a ele. Toda essa frustração serviu ao menos para comover o proprietário. Ele, um tiozinho irlandês do campo e de cara vermelha, disse que tinha mais dois apartamentos para alugar. E para lá fomos nós as dez horas da noite!
Os dois apartamentos ficavam no mesmo prédio, de estilo também irlandês. Podemos dizer que um era no porão e o outro no primeiro andar. Ambos compactos, mas ajeitadinhos. Quer dizer, iriam ficar. Estavam em reforma. O único problema era que não havia dois quartos. Só que a cada minuto que se passava nossas ambições diminuiam cada vez mais. Já nem nos importávamos mais com esses agora-detalhes. Resolvemos ficar com o porãozinho que era maior e tinha até lareira, ainda que decorativa. Combinamos voltar no dia seguinte para pagar o tal depósito. Felizes e abrigadas, voltamos cada uma para sua casa. Eis que no dia seguinte, a Tina teve a brilhante idéia de conversar com um de seus professores. Ele a assustou. Disse que morar no porão era perigoso, pois a porta de entrada é independente do prédio e fica para rua (e era exatamente isso o que mais tínhamos gostado no lugar). Perguntou sobre saída de emergência (???) e sobre o alarme de segurança, e disse ainda que a área era perigosa, pois há uns prediozinhos para a classe menos favorecida próximo dali. Eita lá! Vamos por partes. Primeiro, em Dublin as casas nem portão têm! Ou quando têm, eles são de no máximo 1m de altura e ficam abertos, sempre! Para mim, os portões aqui são mais objetos de decoração do que para proteção. Segundo, saída de emergência?! Oras, se a porta de entrada é tão vulnerável assim, é só quebrá-la que você tem uma saída de emergência e direto para a rua! Terceiro, alarme?! Contra quem e para proteger o que?! Cada uma de nós tem apenas duas malas de roupa e em Dublin as pessoas mais perigosas são os bêbados (!!!) e eles estão desarmados. Qualquer problema é só empurrar, pois eles não conseguirão levantar de novo. E por fim, área perigosa?! É uma das áreas mais charmosinhas dessa cidade e fica a 10 minutos caminhando da nossa escola. E prediozinhos para classe menos favorecida?! Não procede! O prédio que fica atrás é melhor do que o que estava para alugar. Professor coxinha! Ele terá uma crise de choro o dia que for a SP. No meio dessa brincadeira, acabamos perdendo tempo e consequentemente o porãozinho. Como não demos mais certeza para o proprietário, ele alugou para uma tal de Rebecca que tinha o dinheiro em mãos. O resultado foi morar no apartamento do primeiro andar e assim perder nossa porta privativa e alguns bons metros quadrados.

Nos mudamos sexta-feira passada e a reforma terminou essa terça. Agora podemos dizer que temos um lar. Um lar muito engraçado e com uma vizinhança dramática e peculiar. Ponto para a gente! =)
beijinhos estreantes,
Ellen
P.S. Sem detalhes nesse post sobre minha nova casa, pois ela merece um exclusivo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

No mundo fantastico de Liz

Meus orfaos,
Como estao?!

Venho apenas para dizer que meu coracao ainda pertence a voces! Acabo de chegar de um final de semana pra-la-de-bacaninha em London. Nao, nao irei prolongar muito por agora. Estou ha uma noite sem dormir e outras duas mal dormidas. Restricoes orcamentarias causam viagens pouco glamurosas. Alem disso, mudei de casa sexta-feira passada, 4 horas antes de viajar, logo preciso resgatar minhas coisas que estao todas empacotadas e o mais interessante, lavar minhas roupas! Sim, me sinto a propria europeia. Terei que vestir pijama para ir ate a lavanderia do meu mais novo buraco-na-casa-predio. E agora eu me pergunto a relevancia dessa informacao. Acho que o sono afeta meu poder de discernimento. Anyway...preciso de talheres e pratos tambem!


beijos pos-divertidos,
Ellen


P.S Ah, e como nao eh dificil notar, tambem estou momentaneamente desprovida de acentos. Nao gosto disso, me da coisas. Isso me lembra outra coisa a ser feita: averiguar se ha algum sinal de internet free no meu mais novo lar.
P.S 2 Torcam para que tenha!
P.S 3 Essa semana prometo (embora nao goste de prometer) que dou noticias. Varias coisas interessantes e que merecem ser ditas.
P.S 4 Mae, meus creditos do celular acabaram. Deduzindo que v. tenha sentido minha falta e me ligado, nao recebi nenhuma ligacao (ja que pagava para isso tambem). Estou viva. E ainda na base de deducoes, acredito que isso a fara feliz.